segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Duas bolas, por favor!



Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.
Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo o do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente.
OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago. 

Recebi este texto pela internet, como sendo da Danuza Leão. Não sei se é dela ou da Maria das Couves, mas o texto é bem condizente com a minha realidade (de hoje) e creio que, com a de algumas pessoas que passam por aqui. Bjs

5 comentários:

Blog da Pink disse...

Texto maravilhoso ! Outro dia fui jantar num restaurante bem caro daqui e a sobremesa era um petit gateau imenso, eu falei que como o preço era muito alto obviamente eu teria que comer tudinho e comi mesmo ! A família ainda ficou reclamando de mim...
Toda segunda-feira eu tento começar regime, fazer exercícios, mas desisto, agora mesmo minha filha está fazendo bolo de caneca (no microondas), eu amo doces e não vivo sem chocolate. Tem dias que me sinto ridícula escrevendo bobeiras no blog, mas ao mesmo tempo me divirto ! A vida é relativamente curta, vamos aproveitar !
A Luna está velhinha e tem que conviver com os problemas que vão surgir, não é a primeira vez que ela acorda com dor e fica mancando, mas em 2 dias tudo passa e ela volta a saltitar pela casa, agora está ótima latindo no portão e correndo com o Barum !
Beijos
Laís

Clarice disse...

À medida que o tempo passa fica mais fácil aprender a dizer não e a aceitar o que está aí, mas também não preciso de muito ensaio pra dizer o que quero e o que gosto. Os terrenos tem limites, mas com um pouco de paciência e sem ser exagerada as coisas vão acontecendo. Se nem todos os dias são dias de soltar foguetes, pelo menos posso olhar a parede que precisa de pintura e dizer sem constrangimento: um dia eu arrumo isso. Virar as costas e voltar a ler ou a mexer nos canteirinhos.
O "cheio" da vida é gostar do que faz, nem que seja encostar a barriga na sacada e olhar o barquinho passando.
Beijos plenos.

Gisa disse...

Texto perfeito! Eu detesto e acho torturante as coisas pela metade: se só posso comer 20g de chocolate por dia, prefiro passar semanas ou meses sem comer, mas depois devorar uma caixa de bombons ou trufas de uma vez só. Quanto a outras limitações que nos costumam ser impostas, muitas vezes por nós mesmas, o tempo e a experiência estão me deixando mais complacentes comigo; já estou colocando meu chapéu roxo precocemente. Beijos

Gata Lili disse...

Eu só provei uma vez um pouquinho do sorvete de morango da mamis e nunca mais.... Mas vcs humanos que gostam...aproveitem e se permitam a repetir a dose em restaurantes.

São disse...

Só estão cuidando de nosso regime, rrsss

Tudo de bom